sábado, 28 de dezembro de 2013

TRIGÉSSIMA ETAPA: SARRIÁ ATÉ PORTOMARIM : A CIDADE LACUSTRE !

Sair de Sárria, foi por locais que beiravam a linha férrea.  Era dia 26 de maio, e como todas as etapas , cada uma se manifesta de alguma forma diferenciada da outra.  Descer da parte alta da cidade e ir chegar até a base dos trilhos do trem e esgueirar por estas paragens , em direção a uma subida contínua por mais de 15 km ininterruptos. Todas as passagens eram por regiões de bosques, floridos, arvores, arbustos rasteiros, mais altos, mas sempre na direção de pequenos povoados inexpressivos em tamanho, e cultivando a característica de produtores rurais, seja por carne, leite, ovelha, ou até plantações menores de subsistência.  A atmosfera  do campo presente 100 %, com suas particularidades, seus cheiros ( estábulos confinados, cana fermentada, silagem de alimentos, feno seco) e por ai vai.  O dia era de DOMINGO, e a temperatura era adequada, mas com uma névoa, que nunca deixava o sol sair e nunca  chovia também.  Um domingo nebuloso, que nos acarretava muito suor, na subida generalizada do percurso, e também pela mesmice da paisagem, que em nada diferenciava de algumas já vistas e conhecidas.  Um tanto monótono o nosso domingo, fato este que somado ao término dos dias e a chegada iminente dentro de três dias a aumentava a sensação de fim de festa e com algumas  horas de sensação de tomara que termine.  Isso é normal, e pelo que li sobre e por relatos de mais parceiros, a sensação é  semelhante por diversas apreciações.
O relevo mostrado pelo gráfico, de Sárria ate Portomarim, mostra uma subida cheia de escarpas e de uma dificuldade relativa, tendo em vista que  depois da metade do trecho a subida foi íngreme também, acarretando um desconforto bem chatinho.  Importante salientar, que  o final do percurso, vai escasseando mesmo de paisagens de diferentes sensações, ficando o peregrino muito introspectivo com suas experiências anteriores e com as sensações experimentadas, talvez pelo explêndor de algumas situações e o sentimento de finalização do " sonho".
A chegada em Portomarim, nos levou a algumas surpresas positivas, pois a visão da entrada da cidade é por uma ponte gigante, que nos faz divisar o rio imenso de águas pretas e de certa forma fundas, que escondem as ruínas de uma cidade anteriormente construída as suas margens, que de alguma forma em função de o rompimento de uma barragem em anos antigos, destruiu literalmente a cidade , fazendo com que a mesma fosse reconstruída em cima do morro e refeita em bases solidas, tendo o rio lá embaixo como pano de paisagem ao fundo e em baixo.
Uma imensa ponte, com passagem paralela para pedestres e peregrinos, que nos faz divisar no alto a nova cidade, e nas margens do rio os resquícios da cidade destruída pelas águas.   A chegada na parte alta da cidade, reserva de forma irônica e até cruel a subida de mais de 100 degraus na escada  emblemática  da entrada, ocasionando uma última descarga  de energia, até chegarmos as acomodações do albergue.   De tirar o couro do peregrino, na melhor das  falas , os degraus da igreja, na derradeira chegada, depois de toda a quilometragem feita pelo peregrino caminhante.
A chegada no albergue  da " XUNTA" como dizem os galegos, é de uma satisfação muito grande, pois a cidade tem mais ou menos 2 mil pessoas, com diversos pontos de gastronomia, pousadas, hostels, que se contrastam com a significativa imponência do albergue público.  Os albergues da galícia, foram todos reformados, aumentados, inaugurados durante as comemorações do ano Jacobeo em 2010, e são muito atuais, organizados, dotados de equipamentos modernos, mas com uma falha que eu e a Simone destacamos em quase seis ou sete paradas.  Eles tinham cozinhas maravilhosas com todos os equipamentos modernos, etc...., mas acredito que de forma  de acerto comercial com o comércio da cidade, não dispunham de pratos, talheres, panelas, copos( e por ai vai), contrastando com enormes geladeiras industriais, fogões elétricos, maquinas de lavanderia, maquinas de produtos, refrigerantes e tudo o que normalmente precisamos.  Um contraste econômico, que não acredito ser do conhecimento das autoridades da galícia, pois são manobras locais que destoam do espirito peregrino encontrado em todas as paradas que se faz durante o caminho. Como usar uma cozinha moderna e completa, sem panelas, copos, talheres e pratos?    RESPOSTA:  NINGUÉM COZINHA E TODOS COMEM NOS RESTAURANTES !   Rssss, segredo revelado.
Nada que tire o brilho do caminho, mas são constatações.     Constatações que fizemos também com relação aos asiáticos que percorrem os caminhos, e que usam em suas rotinas , alguns remédios milagrosos, tipo a bolina verde que o parceiro MARCOS, um brasileiro que estava caído de uma entorse no joelho, e que medicado que foi por uma peregrina  Coreana, tendo quase ressuscitado e continuado a caminhar depois de dias de sofrimento.   Uma bolinha verde milagrosa !   Nestas paradas, algumas lições e constatações :  nosso amigo francês desapareceu das etapas;  a sempre presença de uma peregrina alemã ( Elisabete), que desfrutou conosco  cerejas em fruta numa sentada no refeitório;  os meninos coreanos que já caminhávamos juntos por vários dias, coisas que fazem sentido, por menor que seja o contato, mas que nos fortalecem, nem que seja pelo " hai" dito nas cruzadas, já que as dificuldades da língua nos impossibilitavam de mais.
Uma constatação na GALÍCIA:   A diferenciação em qualidade ( a menor) da sinalização do caminho. A área da Galicia está muito defasada no cuidado da sinalização do caminho de santiago, se baseando somente nos marcos de pedra com as quilometragens decrescentes e nada mais.  Inclusive permitindo sinalizações paralelas que estavam levando peregrinos a serem induzidos a fazerem voltas alternativas, por interesse de algum comercio que sinalizava errado para que as pessoas passassem por seus comércios.  Uma situação desagradável e que acredito que necessitasse de um cuidado especial e um rigor maior, para que isso não deturpe o espírito do caminho.  Fazer roteiro alternativo para passar na frente do comércio de a, ou b, é uma situação extremamente desagradável.    A diferença do tratamento e da estrutura na região da NAVARRA, em relação ao tratamento da GALÍCIA, e de uma diferença enorme e significativa.   Constatações do caminho.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

HOSPITAL DE CONDESSA ATÉ SARRIA : VIGÉSSIMA NONA ETAPA , COM TOTAL DE 35.5 KM


Terminei a etapa anterior, dizendo que algumas medidas não se consegue explicar, ou justificar, porque parar onde se para, ou porque de algumas decisões.  Pois justamente ai que quero reiniciar o relato da etapa, recordando que escolhi, quase de  forma burra e inexplicável, do porque não ir adiante e não seguir adiante.   Pois parei em hospital de condessa, mesmo sem saber do que nos esperava.   Deixamos três quilômetros para trás da etapa do dia, e isso nunca tínhamos feito, ou seja, seria a primeira etapa que não iríamos cumprir a risca.   Pois já que assim tinha acontecido, a escolha de sair  muito cedo se impunha e assim fizemos.  Quase no escuro ainda, com uma temperatura beirando zero, saímos de hospital de condessa e nos dirigimos até a etapa de que tínhamos lido como sendo o ALTO DO POYO, encontrando tudo o que de novo e inusitado iria acontecer desde a saída do albergue da " xunta".  Escuro, frio, caminho apertado, sinuoso, a subir, de três  quilômetros, e que se apresentava complicado de montão, e que de forma muito louca e quase que em desabalada caminhada, nos atiramos a cumprir.  Chegar ao ALTO DO POYO, foi uma situação em que suamos até quase desidratar, mesmo numa temperatura de quase zero grau, e como é que se vai entender isso.   Uma etapa, extremamente forte, a subir inclinado muito forte, com pedras, caminhos rudes, e uma subida nos últimos 800 metros inclinada quase de forma perigosa, para quem pudesse vir a se desequilibrar.  os últimos degraus da subida, desembocam em frente a um bar, albergue, restaurante, cafe ( destes tipo serranos) que atendem tudo e que ao entrar sentimos a calefação quentinha, fazendo com que num misto de sentar e descansar, secar o corpo e poder ter a respiração voltado ao batimento normal e conseguir enfim comer e tomar um café.   Que café abençoado.  Café, tostadas, mel, doce, e uma cadeira confortável para poder me recobrar de três quilômetros de subida cruel que nos  impactou.   Impossível ontem estes três  quilômetros, nós termos completado a caminhada.   Hoje , mesmo tendo sido cruel, penso que não teria sido possível.   Sentados no cafe, encontrávamos outros peregrinos que faziam a subida dos três km e chegavam em condições semelhantes as nossas ou pior.  Observar isso nos dava por hora um até incentivo, pois não éramos os únicos a penar e sofrer com o físico, e com o preparo.   Devemos ter ficado uns 40 minutos no café, na calefação, secando, e logo logo, a imposição normal de colocar o pé na estada se estava impondo de forma inapelável.  Caminhar era nossa missão e disso não poderíamos fugir.   A DESCIDA que nos esperava era de mais ou menos 11 km, até o fundo da cidade de Triacastela, que  nós lá de cima, conseguíamos ver como um povoado perdido no fundo do vale.  Rssss, tínhamos que ir lá, e isso era a missão do dia.  Pois assim fizemos.   A descer, afora os joelhos, sempre ainda no cômputo geral é mais em conta, e isso  mais uma vez pode ficar provado.  A unica situação complicada era o frio, que lá em cima da serra, mesmo com café, mesmo já de roupa seca de novo, era bem complicado.  Mergulhamos em direção a Triacastela, passando por povoados ( Fonfria, Biduedo, Calmor ) e la pelo meio dia conseguimos chegar na cidadezinha, que era um reduto, ou uma cidade pequena que congregava o roteiro e tinha diversos albergues, sendo quase que um paradouro oficial para quem acompanhava as rotas.  O negócio, era que Triacastela era meio do caminho apenas.  Ali existia um dos tantos desvios e escolhas de rotas.  Podíamos escolher a rota de SAN XIl ou de SAMOS.  Escolhemos a de SAN XIL, e acredito que foi a ideal.  Seguimos por todo o tipo de terreno, e encontramos nosso destino que era CALMOR.  Impossível,  prever o que se vai encontrar a frente, mas hoje nesta etapa, diversas coisas diferentes aconteceriam.   Calmor não era nada mais que um albergue no meio do nada, e que ficar ali seria ficar alijado de tudo e num local ermo e sem possibilidades de nada.  Bar, farmácia, comércio, loja, nada mesmo.  Pois ai que começam as situações:   Quantos quilômetros já tínhamos caminhado , e quanto faltava para a próxima possibilidade ?   e pior que horas já eram até aquele momento.
Tem momentos em que as coisas não são tão tranquilas.  A Simone não gostou nada nada, da possibilidade da etapa não terminar ali, por hoje, mas pegar o mapa e ver as possibilidades era o que se impunha.  Próxima parada seria SARRIÁ, uma cidade espanhola de muito má lembrança para os brasileiros, por conta daquele fatídico jogo com a ITÁLIA, durante a copa do mundo na Espanha, e em que fomos eliminados.  Esta era a cidade que para ser alcançada ainda faltariam mais 10 km.   Terrível, em um dia que começou com temperatura quase zerada lá em cima da serra, e que agora  quase 14 horas, já começava a esquentar de verdade em uma baixada e ainda bem longe do possível destino.   Nos lançamos ao caminho , e aqueles 10 km nunca chegavam.    Soar pés, bota roçando, querendo abrir bolhas, roupas sendo tiradas naquele conhecido efeito cebola de ir tirando e triando camadas de roupas.  Quando as coisas estavam ficando complicadas de verdade, divisamos a cidade  quase que de forma longínqua, mas estava já ao alcance da vista.   Andar, andar, andar, e nestas ocasiões, parece que não chega nunca.  A chegada da cidade se dá pela rede ferroviária, pelos trilhos, e a impressão logo se confirmaria.   A área central da cidade era no alto, e isso, as 15:30, com um sol de rachar, era terrível de verdade. Os primeiros albergues disponíveis nós não quisemos e fomos adentrando, chegando ao dos padres e por ser ainda não central não ficamos.   As indicações por informações nos mostravam uma terrível escadaria de mais de 150 degraus, que nos dava acesso ao casco antigo da cidade, área das igrejas e do albergue público.   Foi um martírio chegar, passo a passo, degrau por degrau, sendo quase uma penitência.    Para surpresa , e quase desânimo, e pela hora diferenciada ( afinal tínhamos caminhado naquele dia 35 quilômetros), onde já era perto de 16 horas, o albergue público estava lotado.    Claro o impacto é ruim sempre, mas não nos deixamos abater, até porque a área central da cidade era conflagrada de albergues particulares, e nossa escolha não demorou 5 minutos.   Acessamos um de  boa categoria, pequeno, com tudo o que precisávamos:  cozinha, banho quente, maquina de lavar e secar, sinal de Wi-fi, e ponto final.   Os demais detalhes são corriqueiros, pois quase sempre se igualam.   Afinal  uma vez que outra pagar quatro um cinco euros a mais que a tabela oficial não matava ninguém.   Lavar roupas, comer, colocar bandagem nos pés, secar o corpo no sol, relaxar as pernas, e se mexer o menos possível, pois cada vez que o corpo esfria, a sensação de desconforto era terrível.   Ainda mais, porque tínhamos feito a maior etapa em km de toda a nossa caminhada.   A etapa seguinte sera chegar ate a cidade de Portomarim, 22 km a frente e de novo o desconhecido nos esperava.
Mais tarde, eu e a Simone, já com a calma e tranquilidade do banho, comida, e tranquilidade da parada, nos demos conta da quantidade de km que havíamos feito, fato este que nos surpreendeu, pois impensável fazer isso todos os dias, face ao desgaste que dá e as implicações físicas da reiteração.
Amanhã eu falo da próxima etapa que seria até a cidade  lacustre de Portomarim.





sábado, 21 de dezembro de 2013

VIGÉSSIMA OITAVA ETAPA : VEGA DE VALCARCE ATÉ HOSPITAL DE CONDESSA

A etapa era bem maior, mas ao final do dia foi somente 18 km, de muitas e emocionantes  experiências.   Cada uma ao seu modo e da forma que quero ver se conseguirei retratar aqui da forma mais fiel.  Ao iniciar a caminhada cedo da manha na saída de Valcarce, a impressão é a mesma que se tem de caminhar pelo asfalto de quem sobe em direção a Nova Petrópolis aqui no Rio Grande do Sul, devido a característica de subir a serra, morros, umidade, pedras pelo caminho, taipas de pedra nas margens, uma estrada sinuosa e a temperatura usual. Este era o cenário  de fundo.   Muito característico.  A sensação de quem caminha e tem metas, e pelo menos lê o guia do caminho, fica trabalhando a ideia do que vem pela frente, o que irá acontecer em termos de altitude, de temperatura, o que tem e não tem de acessos e recursos.  Trabalha-se sempre com estas variáveis mínimas, para que as coisas não sejam  de  um desconhecimento total.  A subida do Cebreiro estava para nós, como sendo o último e temido obstáculo, entre todos os demais que já tínhamos nos deparado, com o agravante das noticias chegadas da neve dois dias antes, da altura, do envolto mistério do misticismo e principalmente do desconhecido, com a vontade de cada vez chegar mais perto e mais rápido.  |Uma efervescência de sentimentos que , na primeira hora da manhã, com o se deparar com o caminho que somente subia, nos fazia temer ainda mais e mais.
A subida pelo asfalto ainda, com temperatura amena era de uma crueldade tamanha, para nossos preparos.  Visualizávamos pilares de pontes gigantescas, de mais de 50 metros de altura, e nós como formigas caminhando quase que a margem do rio Valcarce, com suas águas geladas, mas muito limpas, dando a sensação do gelo que derretia das montanhas e a sensação de que em dias de neve e muito frio, caminhar por aqueles espaços e por aquele caminho era uma parada duríssima.
Desafio posto, desafio a ser cumprido. fazer o que?   Alguém que lê pode dizer, mas o que de diferente, era uma subida e como tal, deveria ser escalada.  Ai que  está a diferença. As praticas do dia a dia já eram conhecidas, pois sair cedo, suar, molhar, chover, cafe, paradas etc....eram situações corriqueiras, mas aquele cenário era novo, diferente e inquietante. 
O gráfico mostra a brincadeira como era.  Primeira parada em Herrerias, um local tipo nada no meio do nada, com uma passagem , 15  a 20 casas, Madereiras de corte, e subir e subir de novo.  Eis que, em determinado momento no asfalto, você vê pintado no chão a foto que juntei para exemplificar a entrada ou desvio para a segunda pior experiência de minha vida.   LA FABA !!!!!!! Nunca mais irei esquecer este nome, pois ele me fez sentir algumas coisas muito esquisitas, experimentar alguns limites, e algumas sensações que não recomendo e acho que podem até variar de pessoa para pessoa, mas que para mim foi extremamente desconfortante.  A Simone se impactou menos, mas acusou igualmente o golpe.   O desvio na estrada nos jogou para uma mata fechada ( literalmente fechada), lados, cima, um legítimo trilho, trilha, picada, com muita umidade, pedras, musgo, barro, aspecto tétrico, com visões escuras, sombrias, como aquelas que são descritas nos livros ao citar  os piores locais do mundo.  Esta era a sensação. E, além do zero estímulo visual, a subida era talvez muito mais de 18 graus de aclividade, tornando a subida somente possível com dezenas e dezenas de paradas.   Perde-se a noção das horas, a sinalização é inexistente, a passagem de peregrinos é difícil, pois todos imprimem ritmos lentos, próprios, de extrema calma e sem nunca conseguir ter ultrapassagens , como em outras áreas era comum.  Com o perdão daqueles que não acreditam, para mim, o trecho da LA FABA, TEM TODOS OS COMPONENTES DO INFERNO.   Esta foi a minha percepção, foi a minha impressão, e o que de pior poderia me impactar.   Uma experiência de se esquecer, de não querer repetir aquele pequeno trajeto de 8 ou 9 km nestas condições.
Fico a pensar até hoje, meu parceiro de caminhada o Arnaldo, que fez este trecho com neve de  mais de 60 cm, com temperatura negativa três dias antes e juntando mais de 30 km de caminhada no dia, unindo etapas.  Algo de quase não se conseguir entender.  Eu, acredito porque enquanto estava em Astorga, recebi seu vídeo, e postei na rede social, antevendo o que eu deveria passar.   Agradecemos a deus sempre, eu e a Simone, por termos nos livrado destas condições adversas, do frio e da neve, pois com certeza, acredito que não teria vencido a etapa.  
As fotos que posto como uma ilustração do que passamos dá a dimensão exata do lugar como era, da paisagem e das características.   Um lugar para se esquecer.    Mas.....como no caminho o aprendizado está nos detalhes menos relevantes até aos mais escancarados, continuamos a nossa escalada até o Cebreiro, cumprindo as paradas que as pernas e a pulsação cardíaca permitiam, tomando toda a água que tínhamos, bebendo a última latinha de coca que eu escondi no fundo da mochila como um plus do esforço, e que , em determinados  momentos eram o único alento para tudo o que estava acontecendo.  Nada de chegar a um lugar de visualização do  céu  livre, da altura que estávamos, de onde era o estagio da subida , nada disso.  Foram mais de 4 horas de subida terrível, ate quando de repente, ao curvar  uma subida de pedras encravadas tipo escada, vimos uma placa que indicava um bar a 500 metros a frente, fato este que nos provocou uma alegria sem precedentes e uma satisfação muito louca de querer aqui traduzir.   Por uma graça de deus era o fim  daquele literal inferno, chegando ao primeiro topo de visualização das montanhas, onde podia-se descortinar o horizonte e ter a noção de onde estava o leito do rio, da estrada e onde agora nos encontrávamos.  Uma coisa de maluco.  Uma sensação muito intensa.     Nos atiramos literalmente no chão e ficamos a divisar tudo a frente, com a imensidão das montanhas, o vale já sem neblina aquela hora e com o novo componente que ai sim se apresentou, como diferencial.   A força do vento e seu barulho, lá em cima da montanha no descampado de nada de arvores, no divisar de pedras e vegetação rasteira, com pequenos caminhos escarpados que agora seriam trilhados com mais vagar ainda, somente que com a diferença de possibilitar uma vista muito linda e diferenciada.  Os extremos opostos em questão de minutos.  Do inferno ao céu em minutos. Uma literal verdade.  Tive a oportunidade de fazer um vídeo no telefone e postar mais tarde na rede social, do panorama que era possível divisar e dividir com os amigos aquela vista fenomenal, muito embora , até aquele momento , a escalada estar sendo feita de sensações muito intensas e fortes.

Para quem tinha subido a LAFABA, andar nos picos dos morros agora era " fichinha", e assim fizemos, até que lá pelas três horas da tarde mais ou menos, fomos chegando por uma pequena estrada de pedra, com casas de teto de sapê ou assemelhados, casas de estilo celta, dos primórdios da civilização, e que daí entendemos , que estávamos chegando ao topo do Cebreiro.  Mil quinhentos e cinquenta metros de altura, em condições inóspitas de acesso, e que naquele momento nos recebia com a magia do lugar, e com a pequena capela de portas abertas e que foi também um capítulo a parte.  A magia do Cebreiro é indiscutível.  A leveza do ambiente, a certeza de uma  aura boa, um local energizado, uma comunidade pacífica, calma, silenciosa, que nos tocou também profundamente.   A palavra do padre que acolhia todos que chegavam, era de uma paz desconcertante e de uma leveza somente identificável, por quem um dia ter a chance de sentir, ver e ouvir.  Único !  Uma sensação extrema, uma sensação muito única.
A dúvida de sempre:  ficar mais, curtir mais, ir em frente, continuar o caminho ?   ficamos acredito que duas horas quase ali naquele ambiente, e pensamos em retomar o caminho porque tínhamos trecho a frente e iríamos continuar.    Feita a escolha, começamos a descer em direção ao próximo povoado, e assim experimentar uma sensação de fim de festa, de caminho vencido, pois como depois viemos a constatar, a magia do caminho ali havia terminado.  As etapas a frente seriam como apenas etapas.  Até a chegada final em Santiago de Compostela.    Mas.....antes disso, passamos pelo marco do peregrino, com direito a fotos, com fotos ao lado do marco da altitude alcançada, com a foto também no marco que nos dividia e nos mostrava que havíamos entrado no território da Galícia espanhola, com suas características e diferenciações do resto do contexto.  Isso eu falarei a frente.
Mas amigos que lêem este escrito, o caminho tem suas magias e loucuras.  Quando desci este morro e cheguei a um patamar mais baixo e vi uma placa identificativa  que dizia  HOSPITAL DE CONDESSA, e ali visualizei dentre as 15 casas do povoado, o ALBERGUE DA JUNTA DA GALÍCIA ( DA XUNTA), como dizem os galegos e não sei porque motivos empaquei  como um burro destes  do nordeste, frente a uma dificuldade ou um obstáculo.   Nunca entendi e não vejo explicação, mas disse para a Simone, que não iria caminhar mais naquele dia, mesmo tendo feito somente  18 km até aquele momento.  E assim fizemos!!!! Estancamos a caminhada no meio do nada, em um albergue bem pequeno, sem muito público e abortamos a caminhada restante.   Na próxima etapa eu conto o resultado da minha escolha aleatória, mas a certeza que fica é de que forças maiores agem com a gente nestas situações, e a nossa escolha se mostrou acertada ao acaso, de acordo com os detalhes da próxima etapa.       As lembranças de HOSPITAL DE CONDESSA, são inexpressivas, mas de forma contrastante foram contrastantes pelo significado de ali ficar, frente a tudo que na manha seguinte iríamos nos deparar.  Mas isso eu escrevo na etapa seguinte !!

domingo, 15 de dezembro de 2013

VIGÉSSIMA SÉTIMA ETAPA : CACABELOS ATÉ VEGA DE VALCARCE : 23 KM

Não tenho a pretensão de dizer coisas novas do Caminho de Santiago, e muito menos deixar dicas para quem quer que seja. A ideia era dividir com todos que de alguma forma  tivessem acesso a este blog, dar as impressões que eu e a Simone tivemos da caminhada, esta aventura em parceria, que sempre foi uma coisa muito forte, presente, e que de alguma forma podemos fazer, aproveitar, recolher as impressões, e na forma mais simplista possível transmitir aqui , algumas delas.  Faço esta pequena digressão, para apenas contextualizar, o detalhe que o Caminho pode ser dividido para todos os que fazem,  em momentos, em situações e em etapas que se diferenciam gradativamente.  Com certeza, com a passagem dos dias, com as etapas sendo vencidas, com as mudanças das regiões, dos relevos, das paisagens, também muda nosso ânimo, nossas impressões e acima de tudo começa a aparecer um componente novo que é a  agonia de querer chegar, de querer fazer os km, de vencer as metas, misturado com um nível de dificuldade presente, misturado mais ainda com as condições físicas, que tendem a se apresentar diferentemente de cada um de alguma forma. Para nós foi assim, e justamente nesta etapa de Cacabelos em diante, decorrente da mudança de perfil da região, do terreno e das condições, começo a contar para vocês, esta etapa, que mudou um pouco a impressão e nos deu mais um outro olho diferenciado da apreciação até aqui recolhida das etapas já concluídas.

Acordamos cedinho como é elementar todos os dias e nos colocamos em marcha.  A subida já era iminente na saída do albergue, pois passando o rio, a lomba nos esperava, mesmo que asfaltada, mas nos esperava de forma inapelavel.  mil metros a frente, querendo ou não o suor verte, a luva já parece desnecessária mas nunca deve ser, o gorro começa a parecer chato, e o peso da mochila dá o primeiro sinal do dia sempre.  É uma constante.  Cada dia amigos, a caminhada se apresenta como uma história e a de hoje nos remeteu para paisagens diferenciadas.  Cruzar um túnel de 450 metros , sem proteção, colado na parede, cheio de medo, avançar pela estrada em um acostamento de concreto, margeando um rio, e olhando o topo das montanhas que nos aguardavam a 1550 metros acima do nível do mar, era um desafio.   Dois dias antes recebemos notícias de parceiros que tinham enfrentado neve quase de 60cm lá em cima no Cebreiro, nosso " ultimo desafio de dificuldade", mas uma incógnita de  como o encontraríamos e como seria nossa chegada até lá.  Escolhemos entre tr~Es rotas alternativas para subir estas cadeias de montanhas, de escolhemos a de margear a estada, por ser " menos" íngreme, e ter 6 km a menos que a rota que iria por dentro do mato de verdade.  Cruzamos por Pierros, Vilafranca  del Bierzo, Pereje, Portela, Ambasmestas, todos locais extremamente pequenos, a beira da estrada, sem quase nenhum recurso, mas com a característica de ser  povoados de corte de madeira, a beira da estrada, alternando por vezes, em decorrência da forma da subida, por um lado da estrada, por outro, subindo e descendo, voltando ao leito do rio, e nos fazendo deparar com magníficas obras de engenharia, com estradas que cortavam a cadeira de montanhas, com pilares imensos, com pontes de vãos gigantescos, nos fazendo parecer formigas coloridas, quando para cima olhávamos, e víamos três quatro andares de estradas  acima de onde nós estávamos subindo.
As fotos exemplificativas mostram bem  o corredor, as pontes, como era a circulação neste trecho.  A etapa previa 23 km e estes nos levaram durante a caminhada da manha , ate as 13:30 até  a subida realmente começar a ficar terrível em Vega de Valcarce, onde escolhemos ficar e no outro dia sim enfrentar o desconhecido.   Na próxima etapa, irei dizer o que significa LA FABA,  e por ai vai, ou seja, algumas etapas que quero até esquecer, pelo grau de dificuldade e por me remeter a lembranças de esforço físico que em nada contribuem para boas lembranças.   Mas isso eu contarei na próxima etapa.
A escolha do albergue em Valcarce, se deu a uma duzia de casas ao redor, e a leitura do manual, que mostrava somente subidas íngremes, e distancias ainda maiores de intervalos de parada, fazendo com que nossa decisão fosse acertada e prudente.  O Povoado tinha o básico, as compras são semelhantes e se repetem, com a facilidade de ter nesta parada um caixa expresso do banco da Galícia se não me equivoco, e pudemos sacar mais uns euros, para o dia a dia e nossa manutenção.  Uma úncia farmácia, nos foi indicada, pela hospitaleira do albergue, que de forma gentil nos acompanhou inclusive, indicando um caminho alternativo e fugindo das subidas que o povoado tinha.  Por pior que seja, evitar degraus, subidas, quando a gente para e se  desamarra de mochila , botas, meias, roupas , peso, é de uma diferença atroz, pois a certeza do esforço ser somente retomado na manhã seguinte.  E assim foi.
A ansiedade que nos acompanhava neste trecho, era de que a neve ou não nos estaria esperando; os 1550 metros de subida;  e a surpresa ( a LA FABA).......e que surpresa.
Dormir, comer bem, um banho bem quente, secar as botas com jornal dentro, para retirar a umidade, lavar as roupas do dia, e ficar quietinho foi tudo o que nos restou neste dia de muitas sensações diferentes e que de forma muito sofrida, mas verdadeira e correta, cumprimos e nos habilitamos para a montanha que estava lá a frente, implacável nos esperando.
NA próxima etapa eu conto o que nos esperava e a forma que conseguimos vencer, com a ajuda de deus é claro, pois somente ele, muda o panorama que mudou, de um dia para o outro.   E nós agradecemos sempre.  TALVEZ SOMENTE ASSIM TENHA SIDO POSSÍVEL VENCER AS BARREIRAS NATURAIS.  E NÓS GRAÇAS A DEUS VENCEMOS !!!!!!!!!!


domingo, 8 de dezembro de 2013

ETAPA 26 : MOLINASECA ATÉ CACABELOS : 23.5 KM

Deixar Molinaseca foi bem cedo, quase no escuro ainda.  Ruim sair cedo, mas era preciso.  Os dias vão passando, e a gente quer saber do caminho, quer chegar, a sensação oscila, e fazer certo para nós dois naquele momento era sair cedo e caminhar até nossa meta do dia que era a cidade de Cacabelos.  Um nome complicado e que não nos dizia nada.   Saímos então, em direção a cidade que não nos dizia nada,e fizemos isso com bastante determinação. A saída de Molinaseca, da parte histórica e antiga, nos remetia para outra parte perto da estrada de boas casas, de bairros organizados.   Em alguns lugares isso se dá como muito contrastante.   O velho, e o novo pulsando.   O dinheiro em regiões produtoras , ricas, e o contraste de alguns lugares pequenos, estagnados, com somente pessoas idosas e sem perspectiva. Isso é muito presente em diversos momentos e fica bastante escancarado, mesmo para quem sómente passa, sem interagir e conhecer a realidade a fundo. É perceptível aos olhos.
A etapa contemplava a distancia de 23.5 km, e isso era normal no nosso já acostumado percurso diário, tendo em vista que conforme o mapa mostrava , tinha inclusive declives acentuados e os tão temíveis morros não seriam problema.  Hoje não seriam !!!!!!! mas como na vida, devemos viver dia pós dia, o problema de hoje não eram as subidas.   Após os primeiros 6 km, chegamos em PONFERRADA,  cidade moderna, e que como uma das quatro ainda restantes de toda a Europa, tem na sua área central , um CASTELO MEDIEVAL , encrustrado .   Uma loucura de se ver, de pensar sobre e de ver que ainda conseguem manter intacto uma obra que data dos anos de 1100 e está imponente, com suas formas e com seu tamanho, contrastando com a modernidade de semáforos, carros, barulhos, buzinas.  Hoje, seu tamanho ainda é imponente, imaginem  900 anos atrás, o que aquilo era de imponente e grande e também opressor, fortaleza, segurança, para aqueles que ali viviam.   O CASTELO DOS TEMPLÁRIOS, se mantem imponente, lindo, presente e nos dá a impactante dimensão de sua grandeza, até nos dias de hoje, com suas formas medievais, tão retratadas em livros e filmes.   Estar na beira do portão, ver as suas torres de observação, ver o contraste do rio que corria abaixo, explica as formas de sobrevivência antigas, as precauções, as necessidades, e principalmente a disposição geográfica para que povos inteiros pudessem  sobreviver por anos e anos com batalhas e mais batalhas , em condições  inóspitas e que necessitavam de detalhes como onde estavam, suas posições e suas defesas aos perigos e ameaças.   Um banho de história, que eu e a Simone, num contraste do antigo e a modernidade podemos apreciar de dentro do cafe que entramos , em frente ao castelo, e que escutando uma musica ambiente suave, tivemos a oportunidade de  descansar, comer, olhar e refletir  sobre o imenso contraste histórico que estávamos presenciando.    Fatos individuais, que tem o condão de nos fazer agradecer a deus, pela oportunidade , pelo conhecimento, pela vivencia histórica e por poder desfrutar de tamanha riqueza cultural.  E, nem por isso, tivemos que pagar 14  Euros, porque o preço cobrado era normal, para a vista magnífica que tínhamos presenciado.   A lembrança do café mais caro do mundo nos acompanhou por diversos momentos da caminhada.  Não pelo valor, mas pela circunstância e pelo inusitado da " extorsão" subliminar.    Na EUROPA, também existem os detalhes da esperteza.   Claro que em número ínfimo, mas presente.
Montar os apetrechos, deixar para trás a experiencia da visão do castelo dos templários, e descer mais um pouco, contornando a cidade e vendo o que nos esperava a frente:   as montanhas !   não para hoje, mas elas viriam com certeza.   Viriam, COLUMBRIANOS,  FUENTES NOVAS, CAMPONARAYA, E por último nosso destino:  a cidade de Cacabelos.
O albergue ficava na saída da cidade, após o rio, e a surpresa positiva, era de que ao chegarmos, nos deparamos com um albergue diferente de todos os demais do caminho.  Moderno, dividido em quartos de duas camas individuais, com energia solar, maquinas de todos os tipos, banheiros modernos, água quente em abundância, sem controle de ducha, sem precisar apertar o botão de 15 em 15 segundos , onde teríamos o detalhe de alguma privacidade e a possibilidade de usufruir uma área ampla acoplada na igreja municipal, e que  tinha uma hospitaleira na acepção da palavra.  Até mesmo a babel de línguas, a diversidade de público, a procura de peregrinos em número maior quase que a capacidade, não faziam com que ela perdesse a paciência, o sorriso, a boa vontade  e o correr de quarto em quarto, resolvendo as necessidades individuais até.   Presenciar  pela manha 4 " bicigrinos" ( peregrinos de bicicleta), dormindo todos enrolados nos sacos de dormir e cobertores do  albergue, mesmo que não houvesse mais acomodações, foi mais uma constatação do pronto atendimento e a receptividade da hospitaleira em  bem acolher , quem chegava, diferentemente de suas condições   de horário  e capacidade de acolhimento.
 Por falar em rio, anteriormente, vimos um fato diferenciado ao cruzar a ponte, pois o rio cruza por debaixo de uma casa, e faz esta vista um diferencial a todos que ali cruzam e presenciam.  A foto mais abaixo mostra isso.   Saindo do albergue, anda-se 500 metros para ter acesso ao supermercado, e isso era importante, pois nestes momentos, a alegria de consumir, nos  dava a possibilidade de algumas pequenas excentricidades.  Mínimas, mas sempre necessárias.
 Fatos pitorescos desta etapa:   Uma parada que fizemos em um pequeno povoado de passagem, onde a Simone comprou três laranjas, e que se tornou uma parada emotiva, com direito a troca de lembranças ( as abelinhas das nossas abelhas arteiras), a assinatura no livro do bar, com direito a abraços apertados, lágrimas, falas emocionadas, decorrentes  de uma pequena parada e da compra  " enorme" de três doces laranjas."   isso com certeza, decorre do estado de vulnerabilidade emocional que a gente vai sendo acometido no decorrer do passar dos dias.    Outro fato foi o esquecimento por parte da Simone no albergue de  Molinaseca, da sua calça impermeável, e que quando da saída foi a única peça de roupa no arame.  Que sorte que ela pode recolher e levar junto.   Eu por estas coisas das convivências, e amizade que fazemos com as pessoas, tive a oportunidade de receber uma situação  de agrado por parte dos meninos  sul coreanos, pois eles estavam no beliche perto do meu, e viram o meu esquecimento da toalha impermeável.  Trouxeram consigo, e quando me viram no trecho fizeram uma festa para me entregar.  Muito legal a troca de agradecimentos ( aos nossos jeitos), pelo fato da ajuda mútua.    Poder colher uns ramos de trigo dos trigais da estrada e guardar dentro do plastico da roupa para minha mãe, como detalhe de um momento emocionante do caminho.  Ver aqueles trigais imensos, balançando ao vento, me deu uma nostalgia, e a lembrança de minha mão foi instantânea, fazendo com que colher alguma copinhas de trigo e trazer foi a minha intenção imediata.    Coisas do caminho!         Ver a Simone com a primeira bolha, desde a descida de Molinaseca, e a presteza do peregrino francês que  pegou um COMPED seu e ajudou ela a fazer um curativo, foi também uma demonstração de parceria do caminho, onde  se torna comum dar a mão a quem de alguma forma está precisando.  Gestos individuais, silenciosos, sem alardes, mas que tem resultado físico direto e emocional indireto.
 No " almoço" desta parada, no meio da tarde, tive a oportunidade de fazer uma surpresa para a Simone, pois ela nem esperava, e eu montei um almoço improvisado na mesa de fora do albergue, com algumas " iguarias" de peregrino :  moranguinhos gigantes em bandeija, abacaxi em compotas de lata  de 350 ml( pequenas); Jamom; queijo; atum; pão, chocolate; e latas de coca compradas nas maquinas existentes no próprio albergue.    Festa pronta, sendo que depois descansar, e esperar a noite e a manhã próxima para nova etapa.
Um detalhe para registro :  Pela primeira vez, presenciamos um  esquema de marketing comercial entre restaurantes da cidade, em relação aos peregrinos do albergue:   Uma romaria de vans, buscavam interessados em jantar nos restaurantes da cidade e traziam de volta, após, fazendo com que muitas pessoas decidissem desta forma jantar fora, evitando caminhar 500 metros mais para ir e 500 metros para voltar.  Uma jogada comercial, mas existente.    Coisas do caminho.