terça-feira, 23 de julho de 2013

Pois a etapa prevista é ZUBIRI a PAMPLONA, com 20.7 km num terreno de normalidade, sem as subidas e as descidas terríveis. Partimos 7 e trinta da manhã, e depois de ter uma noite  muito boa de sono e de descanso, com os joelhos devidamente molhados de Cataflan gel , fomos rumo ao desconhecido. Uma etapa até leve para os padrões da caminhada, mas onde  seguiria a mesma  situação de nosso preparo físico precário, e a aclimatação, que iria vir, gratadativamente com o passar dos dias. Esta etapa, nos gerou uma caminhada, dentro de nossa realidade  de  ritmo, até as 14 horas e trinta minutos, quando adentramos a cidade de Pamplona, e começamos a procurar o lugar para ficarmos albergados. A chuva persistia, nos fazendo pensar que iríamos ter quantos dias com esta realidade. Caminhar com chuva e muito frio, tornou-se uma das coisas bem desagradáveis destes primeiros momentos de nossa experiência no caminho, fazendo com que  a gente tivesse a ideia de que isso seria até quando ?.
 Adentrar a cidade de Pamplona, uma cidade de padrão médio, diferente dos povoados até agora conhecidos, nos deu uma dimensão até então diferente.  O peregrino na cidade, nos centros maiores , fica  desfocado do andamento normal da vida que pulsa  normalmente, pois a sua indumentária , o seu cajado, o barro das botas, a sua vestimenta, as capas " estilo corcunda" nos diferenciavam a distancia. A gente tinha esta dimensão.  Nós tínhamos esta impressão. A entrada da cidade  foi lenta, passando por regiões diferenciadas, direcionando para  a área central da fortaleza antiga, caminhando para perto do endereços dos albergues e esperando ver as melhores situações para definir a parada, ou onde realmente pernoitar.
Primeiro albergue  que chegamos, Porcebadon ( dos alemães), estava completo e impossível qualquer alternativa.  Procuramos informações com pessoas da rua e ficamos sabendo que estávamos na parte baixa da cidade, devendo subir em direção a catedral, perto da praça dos touros, e ali sim de forma mais próxima , ter mais indicações de locais, de albergues, de pousadas .  Mais tarde, vim me dar conta, da  referencia histórica da cidade de Pamplona, com as datas, com as corridas de touros pela cidade ( São Firmino, se me parece), e também pela excelente informação que um determinado espanhol , cidadão normal da rua e entusiasta do caminho, se fez  interessar e nos guiou até a rua onde estava localizado o albergue  da igreja ( de nome Joao Maria), e que nos acolheu de forma maravilhosa. Fomos os números  112 e 113, fechando a lotação do albergue naquele momento.  Sinal de sorte, pois atrás de nós na fila mais de 20 peregrinos tiveram que de novo ir a rua e  tentar diferentes opções de estadia ou caminhar ate outra parada.
 Fatos e situações novas:  Pois o caminho  vai te mostrando detalhes e fatos, e fica por tua conta apropriar ou não. Aceitar ou não.  Entender ou não.   Pois o fator do dia hoje foi o primeiro exercício de desapego material que o caminho  nos " ensinou".   Nossas mochilas estavam muito pesadas de verdade.  Nossos pés estavam acusando isso.  Nossos joelhos também.   Pois justamente, neste momento que ao conhecer as instalações do albergue que estávamos alojados, conhecemos a cesta do desapego.  UM ENORME tonel, onde as pessoas que quisessem se desapegar de objetos, coisas, equipamentos, poderiam ali fazer , que os materiais seriam direcionados a doações , reaproveitamento , doações e outras finalidades interessantes e até filantrópicas.   Nossa, como a cabeça da gente  dá voltas e faz contas.....sendo que a razão deve sim falar mais alto que as vezes simples apegos.
Era apenas o fim do terceiro dia.   Abri minha mochila depois do banho e enquanto deitado no beliche, aguardando a  volta da Simone que tinha ido tomar banho e ver a lavadora e secadora de nossas roupas ( aquelas que funcionam com moedas)e que depois de muita espera tinha chegado a nossa vez, comecei a escolher o que eu iria  deixar no tonel.   Que exercício !   o que colocar " fora", desapegar, deixar para trás, abrir mão de usar, do pouco que já carregávamos?   Logo logo, a decisão: tirar foto com a camisa do Inter e postar para um camarada que gosta muito do nosso time, mas ela não seria usada.  Ninguém precisaria mais de duas camisas. Uma no corpo e uma na mochila.  Tira , coloca a limpa e lava a usada.  Assim seria os 40 dias.  Sem variedade, sem escolha, sómente o necessário e o indispensável. Bermuda, fora!  lanterna pequena de 250 gramas fora !  Bandeira do município que eu tinha levado a minha pessoal e própria, deixei como tantas outras que estavam expostas nas paredes do albergue e são afixadas das mais variadas regiões, cidades, países deste nosso mundão. A de  Balneário Pinhal está lá em Pamplona no albergue da igreja católica exposta.
O albergue, tinha excelentes condições, dentro de uma igreja enorme, desativada como igreja e transformada em albergue.  Cozinha, lavanderia imensa, andar de baixo e em cima, calefação, e hospitaleiros que falavam todas as línguas principais, que se  faziam necessário em nosso convívio. Muito frio na rua e com chuva fina, nos aventuramos achar uma mercearia pequena, ou mesmo um mercado por perto, oportunidade em que tivemos a sorte de bem perto encontrar e fazer nossas comprinhas básicas do dia a dia e que seriam a marca quase registrada de nossa caminhada.  Baguete, banana, laranja, atum, chocolate, Coca-Cola 600 ou latinha, queijo, presunto ( Jamon) e as batatas fritas de sempre.  Isso se repetiu por dezenas de vezes, sendo em poucas oportunidades, o acréscimo de sardinha ou linguiça, massa, ou pizza.   Alguém pode dizer.....mas vocês comiam mal, ou porque não comiam fora, restaurante etc....e eu respondo.  Até tivemos diversas oportunidades em que fomos comer o MENU DO PEREGRINO, com seus pratos  e sobremesa , com vinho ou agua., mas isso dependia do dia que tínhamos, nosso estado de ânimo, nossas pernas, nossos joelhos que teimavam em doer desgraçadamente, ficando quentes e começando a inchar.  No caminho o início sempre é diferente do fim do dia, e nenhum dia tem coisas iguais e repetidas.  Cada dia é um dia com novas situações e novas emoções.  Agora lembrei :   que feliz ficávamos quando o ambiente, albergue, bar, praça etc.....tinha sinal de WI-FI liberado, pois podíamos ter noticias de todos daqui da cidade, postar fotos, receber os contatos, interagir com os amigos e dividir algumas impressões da viagem. Como foi importante esta interação com todos os amigos daqui, pois por incrível que possa parecer, com todas as novidades, com tudo o que o caminho te apresenta, nada , mais nada mesmo substitui a saudade dos amigos, a saudade dos filhos, a vontade de estar com os da gente e ter o carinho das pessoas queridas por perto.  Isso foi outra das constatações do caminho.  Até bem lógica, mas sómente sentida e experimentada quando se coloca o pé fora de casa e ficamos afastados de nossas realidades.
Dormir, descansar, colocar pés para cima e ter um descanso merecido.  O outro dia era logo logo.  As 5:30 da manhã todo o ritual iniciava de novo com todas as particularidades que já a frente iremos descrever.  Assim terminamos  o dia 30 de abril de 2013 !

sexta-feira, 19 de julho de 2013

SEGUNDO DIA.......COMO SERÁ ?


Levantar, banheiro, recompor as mochilas, retirar os jornais úmidos de dentro das botas, colocadas para ajudar a secar durante a noite, ver roupas secas e montar  literalmente os apetrechos , para o início do segundo dia de caminhada, em direção ao desconhecido. A cada manha é assim ! A gente parte com a certeza da quilometragem, com a previsão das altitudes a subir ou descer, mas em busca do desconhecido. Por uma análise rápida do folheto do relevo, sabíamos que seria um dia de descidas!  que legal......rsss, em termos as facilidades.  na caminhada a gente descobre, que descer é tão ou pior que subir, que o impacto é ainda maior nos joelhos, nas articulações e nem sempre é facilidades e previsão de  coisas positivas.
Tudo pronto, estávamos montados dentro ainda da atmosfera do albergue, prontos para sair, quando colocamos o nariz fora da porta e a sensação do frio cortante nos penetrou. Meu deus, impossível sair a rua com aquela temperatura, com aquela agua( uma mistura de garoa, ou era neve, ou era chuva cortante), ate agora não sei. Voltamos literalmente, abrimos todas as mochilas, retiramos todas as roupas que tínhamos ( camiseta, mais um casaquinho) a Simone uma calça destas tipo "fuzô ", a capa de nylon por cima de tudo, gorro, luvas e fomos a rua.  Horrível a sensação, mas não tínhamos outra alternativa.  Passamos na placa mais fotografada do caminho, onde fica estabelecido os 790 km faltantes da caminhada, logo na saída do albergue, e que marca o inicio da caminhada para o segundo dia em direção ao povoado chamado Zubiri.  Paisagem rural, uma descida, neve do dia anterior ainda acumulada nos canteiros e na vegetação......uma descida não tão  abrupta, mas sempre em descida. Esqueci :  e o café ?   Nunca saia , nunca inicie a caminhada diária sem nada no estômago. Um iogurte, uma bolacha, um suquinho , um café de máquina, uma banana, qualquer coisa que permita você não caminhar de estômago vazio.  Pior : nosso erro de novo no segundo dia.  Caminhamos mais ou menos uns 4 km, até conseguir chegar no primeiro povoado, e daí sim, de forma sofrêga,  tomar um café quente e o primeiro bocadilho ( sandwiche) característico de toda a nossa caminhada, e que foi saborosamente absorvido com um café bem quente.  maravilha!!!!! Que engraçado, a quantos anos tomar café era uma prática habitual e sem cor e sabor. a gente toma e pronto.  Aquele dia, a quentura do café, aquele sandwiche, forma coisas muito saborosas e apreciadas.
De volta a caminhada( todos os dias a previsão variava de 6 a 7 horas e meia de caminhada) sempre nesta média. Continuamos descendo.....pedregulhos, campos de eucaliptos, pinheiros, e pedras, e mais pedras, e mais barro, e mais umidade, e mais caminhos, e mais curvas, e mais bosques, e mais descidas, e descidas. Caminhe sem olhar para o relógio! Caminhe e olhe a paisagem que lhe cerca.  Proteja-se do frio !  o Suador é presente com o contraste do frio intenso. Sua roupa encharca a cada hora. Seca....., você sua de novo e assim vai !

Que engraçado !  de repente você lembra que tem joelhos, e que eles começam a dar sinal de alguma inconformidade ( rs....se isso fosse possível). Sim......eles ficam quentes, eles começam a doer, e logo logo, você começa a mancar ou a descer apoiado em uma perna só, revezando.......etc....fazendo com que  aí apareça os primeiros sintomas de algum problema nas articulações.  rssss, vamos direto aos venenos então: CATAFLAM GEL, foi a primeira das mágicas que usamos, para poder de forma básica enfrentar estas primeiras dificuldades.  A cada parada significativa, esfregar e esfregar os joelhos.   E assim foi em muitos e muitos momentos desta caminhada.
Logo logo a hora do meio dia chega.......o " drama diário" de encontrar um bom albergue, um albergue que tenha vagas, que tenha um bom banho, que tenha cozinha e mais alguns detalhes que a gente vai aprendendo no decorrer dos dias.
saldo do dia:   duas bolhas nos dedinhos pequenos do pé, em função da descida e do tracionamento errado que a gente faz ao descer.   Logo logo os dedinhos ganham bolhas, e isso é sempre um problema e um  detalhe a ser cuidado.   Para isso, adotei todos os dias a frente , o detalhe de  encapar com micropore todos os dedos dos pés.  Todos os dias.  E, com isso, não tive nenhuma bolha , ao longo de toda a caminhada.  Botina bem apertada, duas meias ( uma fina e uma grossa), preenchiam os espaços entre o pé a a bota, não deixando área de fricção, e portanto você tem menos chances de fazer uma área de atrito e posterior bolha.
Chegando em ZUBIRI,  não encontramos mais vagas no albergue, e o jeito foi encontrar uma pousada( Casa Rural) como chamam, e com isso tivemos já no segundo dia um pouco de conforto, diferente das próximas etapas onde os albergues estavam disponíveis e a realidade  da caminhada foi sendo apresentada.
Ritual de todos os dias : lavar roupas, secar, comer algo reparador, dormir bastante e acordar cedo de verdade.  Está é de forma simples sempre a realidade do caminho em todas as suas etapas.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

E AGORA......DORMIR COMO ? E AMANHA....VAMOS OU NÃO?

 Depois de um dia de tantas novidades, tanta angustia, tantas ansiedades, estar alojado com privacidade neste fim de noite, com a possibilidade de poder descansar, ter uma noite de sono reparador e um banho quente, foram um final que estávamos buscando. Dormir ou não......conseguir relaxar ou não com todo este turbilhão seria outro problema.  Ainda mais, quando escutamos uma batida no quarto e o nosso parceiro de viagem, o amigo Arnaldo, nos informando que estávamos vivendo nas ultimas horas em St Jean, além da chuva, a informação de que as condições meteorológicas da região estavam mudando radicalmente, com previsão de ventos fortes e nos picos nevados  a possibilidade de mais neve e precipitações em horários os mais diversos. Era , com certeza a noticia que " faltava" para completar a noite de sono e nos deixar preparados para o dia que teríamos.  Saímos do Brasil , dia 25 de abril, chegamos em  St Jean de Pied  Port na França, dia 26, e conforme nosso planejamento , queríamos iniciar a caminhar dia 27 ao meio dia, fazendo sómente 8 km de caminhada, para poder sentir o que nos aguardava e ver como iríamos reagir face ao novo e ao inusitado.  Fazer o que.....dormir então .
 A madrugada em determinados momentos, nos mostrou que muita agua estava derramando, nos indicando um dia cheio de novidades e de coisas a serem vencidas.  Cinco horas da manhã em diante, com chuva e tudo, comecei a escutar o toc toc , depois entendido, que era o barulho dos cajados na pedra de paralelepípedo, que na medida que os peregrinos iam passando, o som chegava ate nosso quarto. Pensei, eu...mas eles vão com toda esta chuva?  E a pergunta ficou comigo até lá pelas 8 e meia, quando acordamos e fomos tomar um café na cozinha da pousada.  Parece coisa de maluco, mas a dona, uma francesa não falava um pingo de espanhol. Eu nada de inglês e francês. Para aumentar a babel, desce para o café um austríaco, que igualmente tinha dificuldades  com a hospitaleira da pousada, para a comunicação óbvia do café.  Isso seria uma característica do caminho, portanto, normal.
 Fato novo:  Pois é, sempre temos, e ele se apresentou quando nosso parceiro de caminhada, Arnaldo, tomou café conosco e foi até o escritório da cidade , que organiza, cadastra e carimba a credencial dos peregrinos, e retornou com a previsão ainda mais sombria para as próximas horas:   As coisas só iriam piorar e isso nós ficamos na encruziliada.   Fazer o que ?
São estes momentos que a gente por ser afoito, por não pensar um pouco mais e fazer um julgamento precipitado, as vezes pode pagar muito caro.  Lá, com tempo, com neve, com frio, com chuvas  fortes, com previsão de ventos, poderíamos sim ter sofrido mais problemas que realmente tivemos.  Pior :  tivemos que assinar uma declaração de que não usaríamos a rota denominada de Napoleão, por esta não apresentar condições mínimas de segurança e a Defesa Civil local não permitir que os peregrinos fossem expostos a estes perigos.  Eis que , acredito eu, fizemos a primeira manobra burra e errada da nossa caminhada. Aceitamos assim de pronto, sem medir consequências, a partida quase 10 horas da manha, em uma rota alternativa ( walcarlos), encarando 27 km de pura subida, achando que seria a melhor atitude e que iríamos tirar de letra.  Mochila pesada, chovendo, frio de verdade, sem roupa térmica, eu ,a Simone e o nosso companheiro Arnaldo, partimos, sem antes carimbar nossas credenciais, amarrar nossas conchas na mochila e eu e a Simone termos parado na lojinha de souvenir de ST. JEAN e comprado nossos companheiros de caminhada ( nossos cajados), que nos ajudariam nos próximos 40 dias.
Maravilha......coração batendo forte, a emoção aflorada, a ânsia do início sendo dissipada, o caminho sendo materializado, e aquilo que muito tínhamos lido , começando a se descortinar para  nossos olhos. Caminhar de capa, amarrado na mochila, peso, todas as sensações novas e uma série imensa de fatos novos acontecendo.  Isso provoca uma diversidade de  sensações que fica difícil transpor para o blog e que só quem caminha e quem vivencia estes detalhes simples mas determinantes, que pode mensurar.  Mas, mesmo assim era tudo festa!    Area rural, caminhos com animais, gado e ovelhas confinadas, propriedades de pedras, ausência de pessoas na rua, e as primeiras variações de terreno.  Sair de um asfalto, pisar na estrada vicinal, atravessar córregos, seguir de novo o curso da estrada pela ponta do asfalto, adentrar ao bosque , seguir curso de um rio lá no fundo, contrastando com a altura dos picos nevados que víamos apenas quando  nossas cabeças levantavam para fitar um horizonte distante, muito distante.  Suar.....meu deus como a gente iria suar nesta caminhada.  Ficar encharcado, literalmente molhado, roupa colada, suor com sais, com gordura, nossa o corpo padece, reage, expele, não se pode ir tirando as roupas e isso também causa um desconforto.  Logo logo nos deparamos com a primeira realidade :  nosso preparo físico era muito pouco, para o que estávamos fazendo e iríamos fazer logo logo.  Isso fez com que nosso parceiro de caminhada, já mais treinado e mais acostumado, se distancia-se e seguisse seu ritmo e seu próprio caminho.  O caminho tem disso.  Cada um deve fazer o seu , independente de parcerias ou não.  Estar  só com seus pensamentos, com suas vontades, com seus desejos e não ficar adstrito a outros fatores.    No caminho a  gente para quando tem fome, quando cansa muito, quando a dor manda, quando o lugar chama e quando por motivos que não se sabe, tornando fatos simples e descompromissados , com significados e relevância que nossa cabeça dá e  processa.  Todos os dias isso ficou evidenciado neste nosso caminho.
Antes da metade dos 27 km que eram a nossa meta, estávamos já quase exauridos, por força da subida, da chuva e do outro erro primário:   Nunca leve mais do que você necessita !   Peso na mochila, causa tudo isso e acima de tudo , literalmente , faz você ter tendinites, estoura joelho e mais algumas dificuldades.
Quando pensamos que as coisas estão ruins, elas podem sim piorar :  meio da tarde, começa a nevar forte e este novo fator quase nos fez desistir. Por um erro de estratégia, ficamos sem água, pois as garrafas de 500 ml cada foram  um tapa e o cansaço começou a bater forte e a subida cada vez mais acentuada. Caminho por entre vegetação, pirambeiras de mato, pedras e mais pedras, algum barro, terreno irregular e muita subida foram obstáculos terríveis que enfrentamos.  Quando pensamos, que estávamos chegando a beira da estrada novamente, viemos a descobrir que ainda faltava mais 4 km e oitocentos metros de subida em espiral de estrada, até o símbolo da Ibaneta, que é o marco de chegada desta rota, antes da localidade de ROCENSVALES, marco de fim da primeira etapa.   Foi um momento de muita emoção quando conseguimos chegar, pois passava já das 18 horas, com muita cerração, com muito frio, estávamos quase acabados, mas tínhamos vencido a primeira etapa do caminho e o terror da subida dos Pirineus , de forma , alternativa tínhamos resolvido. Ser acolhido no albergue da Colegiata de Rocensvales foi uma das coisas mais aconchegantes e prazerosas, que tivemos neste primeiro dia, pois chegar ao local de destino, tirar roupa e botas encharcadas, ter uma cama limpa, quente, banho, poder comer, e se sentir de novo tranquilo, depois de um dia cheio de obstáculos foi muito gratificante.   Rezar, agradecer,e procurar ( nestas condições é difícil), ter um sono reparador. Esqueci:  por chegarmos muito tarde já , passando das 18 horas, perdemos a missa tão especial que é a que é celebrada a todos os peregrinos ( neste dia foram mais de 300 peregrinos), e nós não conseguimos participar. Nossa......nosso caminho nos cerceou desta, mas nos brindou a frente com outras que nunca iremos esquecer em nossas vidas.  Outra lição do caminho......as situações acontecem e aconteceram, independente de querermos ou não.  Elas se apresentavam das formas mais inusitadas .  E como foi e eram  recheadas de " pequenas dicas" que cada um  que faz o caminho, interpreta, processa, absorve e tira o que souber e quiser das pequenas ações e vivencias   contidas.  Esteja receptivo apenas.......... !    22 horas a luz apaga e dormir é o que se impõe.

sábado, 13 de julho de 2013

SAÍDA DE PORTO ALEGRE E CHEGADA EM MADRID



Pois é.........tanta agonia, tanto suspense, bastante ansiedade , até que o dia chega, o horário fica  adequado e aquilo que tanto estávamos esperando começa a se materializar.
Fomos para Porto Alegre , estar com os filhos na ultima noite antes da viagem, e aproveitamos para curtir bem a estada e a despedida, pois estávamos prestes a ficar o maior período de  distância de nossos filhos em nossa vida, de nossa gente, de minha mãe, dos amigos, do trabalho, das nossas atividades etc... e isso também nos repassava ainda mais ansiedade.  Despedidas todas, minha filha mais nova, foi forte ate o fim, talvez deixando para a volta  a casa e para os dias sozinha a saudade e a distancia incômoda que esta separação nos estava impondo.  Aguardamos a primeira hora da tarde, e fomos ao aeroporto  Salgado Filho, tomando o voo  para São Paulo com tempo e bastante antecipação. Mochilas despachadas  e embaladas com plástico  a vácuo aqui no aeroporto de POA, e já despachadas ao destino final MADRID-BARAJAS  TERMINAL 1, base de pouso das aeronaves da TAM nos voos para a Espanha.  A espera no Aeroporto de Guarulhos foi normal, com o conforto da área de embarque internacional e também decorrente do tempo ter passado rápido, pois conhecemos e encontramos o nosso parceiro inicial da viagem , o ARNALDO, lá do Paraná, que iria voar conosco e dividir após chegarmos em Pamplona, o táxi até o destino inicial de nossa caminhada em St. Jeaan de  Pied Port, após a divisa da FRANCA E ESPANHA. Tivemos um voo muito tranquilo durante as mais de dez horas ininterruptas, e também um pouso tranquilo.  Tudo transcorrendo de forma  como tínhamos pensado e planejado.  Pegar mochilas na esteira, entender os caminhos e as placas internas do aeroporto, e partir logo para o balcão de informação oficial do aeroporto, para saber do transporte para a cidade de Pamplona ( destino intermediário) antes de chegar ao ponto de partida. Depois de discutirmos valores, horários, ônibus ou trem, nos decidimos que seria de ônibus, pois o mesmo sai de uma área contígua ao próprio aeroporto, proporcionando naquele primeiro momento, comodidade, e menos preocupação, do que ter que ir de metrô até o centro de Madrid e ter que  desbravar o desconhecido desde já. Viagem tranquila em um ônibus confortável, por 5 horas, até a cidade de Pamplona, onde chegamos ao final da tarde, já anoitecendo, onde encontramos  a nossa espera  o motorista e nosso primeiro guia , Juan, que nos levou ate a cidade de St Jean para ficarmos e iniciarmos a nossa caminhada.  Neste  tempo todo, esqueci de referir que encontramos um brasileiro que estava no mesmo voo, e que iria fazer o percurso do caminho de bicicleta e  oferecemos a ele uma carona no táxi ( uma van espaçosa) que acomodou a sua bicicleta no compartimento de bagagens e resolveu também um problema seu.  Coisas já do caminho !   Mais de uma hora de viagem até St Jean, por uma estrada sinuosa, que teimava em descer em  círculos, me deixando marejado e muito ruim do estômago, provocando com todo o frio da rua, um suador e um desconforto muito chato.  Foram quase 30 km de descida  por uma estrada  toda cheia de curvas que depois ( a frente entenderia), seria uma das coisas mais difícies de percorrer e de caminhar no nosso dia seguinte.  Chegamos na cidade, olhar , ver, entender onde estávamos, e isso nos tomou tempo, sendo que era  quase 23 horas,quando chegamos efetivamente    naquela que após muita negociação, seria a nossa primeira pousada, visto que os albergues já estavam todos tomados e  cheios de peregrinos que tinham chegado a cidade em horário mais adequado que nós. Procurar um lugar para jantar, tomar já uma chuva, pois a garoa fina se  estendeu, e voltar para a pousada para descansar da maratona de viagem, troca de veículos etc...., que nos tinha cansado bastante.   Conseguir dormir, relaxar, parar de pensar, deixar de estar agitado e ansioso era outra conversa, mas que vou deixar para a próxima postagem.

O nosso caminho !


Início hoje, uma etapa por semana, ou mais se puder assim produzir, a publicação aqui no blog do relato mais minucioso, do que foi o nosso caminho de Santiago de Compostela, nos quarenta dias que estivemos percorrendo a divisa da França e a Espanha, na caminhada  de nossas  incertezas e limites.
De pouco em pouco iremos contando aqui os detalhes e nossas impressões. Sem pretensões e sem maiores dificuldades.  UM RELATO APENAS, para todos aqueles que eventualmente acessarem este blog.