sábado, 28 de setembro de 2013

CARRION DE LOS CONDES até TERRADILHO DE LOS TEMPLÁRIOS ! A ETAPA CRUEL

A etapa é 26.2 quilômetros, de distância, em um terreno plano, sem nada de graça, entremeados por terras e plantações, sem acesso a bar, tendas, comércio, suprimentos, sombra, nada versos nada ! A imensidão entre áreas inóspitas de plantações imensas e infindáveis, por um caminho chamado de (andadeiro), cercado em alguns km de arvores e depois completamente inóspito, despido de qualquer situação de apoio ou áreas de suprimento.  Ou seja : 17 quilômetros destes 26, serão no peito e na raça( no caso foi um dia de calor) e nos sapecou de verdade, com uma temperatura diferente que estávamos pegando e com a aridez da terra e das opções ao longo deste trecho. 
 A Única referencia por determinados momentos era a passagem de maquinas com implementos agrícolas, levantando poeira e deixando a estada quase sem que pudéssemos respirar, aliado ao calor , e a imensidão de chão a frente.  O termo perfeito era desanimador, mas com o desconhecimento e sem saber o que iria ainda complicar mais, a gente vai no escuro e no estímulo.  Mas quem disse que o que é ruim não pode piorar?    Sorte, se isso pode ser tido como sorte, que o trecho era plano, e isso pelo menos amenizou um pouco do cansaço.  Neste trecho não tínhamos povoados, banheiros, fazendo com que todos tivessem que caminhar com alimentos a mais e com acumulo de peso, agua em maior quantidade que o necessário, e pior, a cada trecho a romaria em direção as moitas e aos poucos locais de arbustos, eram usados sem a menor cerimonia como banheiro.  Muito complicado !   Mas muito complicado mesmo.
 Caminhar em etapas difíceis, é uma realidade do caminho, mas esta em especial tinha algumas características piores e diferenciadas.  Vocês pensem comigo, que após esta maratona, sem nada, você chega no povoado único e localizado no meio do nada e sem chance de escolha de local a ficar. Um albergue ( relativamente bom), mas sem opção de mais nada. Farmácia não, tenda não, restaurante não, bar não, ou seja um povoado agrícola de 80 pessoas somente, incrustrado no meio das plantações extensas e único refugio para a próxima etapa que também era nada  nada promissora. Mas, você já esta inserido, relaxar é a única opção e não adianta.  Muito triste ver bastante gente, chegando ao albergue e  este já estar lotado, ficando gente dormindo nos corredores, com menos privacidade ainda e outros tendo que recorrer para além deste  trecho ruim e inóspito, ter que ainda percorrer mais 6 ou 7  quilometros até o próximo povoado e não ficar  empenhado de verdade.
 O albergue tem o nome de Jaques Demolay, sugestivo  como um dos responsáveis pela ordem dos Cavaleiros Templários, mas que neste local e nesta menção, sobraram somente a cruz e a bandeira, assim como a representatividade de seu nome.   O ritual diário de chegada, roupas, descalçar as botas, lavar roupas e ver o que existia para comer no albergue x restaurante único existente.   Tive sorte, pois gosto de sopa e um caldo de galinha, com arroz ralo, me fez uma espécie de forração ao estomago, e após o banho, passado o calor, refrescado um pouco, o efeito foi até animador.  Momentânea  a sensação !!!!!
 A Simone teve quase uma pequena insolação, pois foi tendo o efeito cebola ( retirando peças de roupa) e chegou ao fim do trecho de manguinha de camiseta e tomou o sol direto, sem protetor e quase se complicou. Aquele vermelhão.
Existem momentos na caminhada, em que vemos detalhes mundanos sobrepujando o ideal cristão da experiência da caminhada, pois a mistura de interesses comerciais, as praticas de aproveitamento comercial das oportunidades e as dificuldades de quem está literalmente " ilhado" em algumas condições, nos dão um gosto nada legal de  digerir, pois nos sentimos coagidos, sem opção e reféns da situação.....rs, poderia dizer alguém, nada diferente do dia a dia e da vida de relação ?
 Não gosto de reforçar isso, pois nada compromete a grandeza do caminho, sua existência, sua significação, espiritualidade, mas são detalhes nada construtores de uma boa realidade, e que nos trazem de quando em vez para a dimensão que estamos no mundo mesmo e que  a vivencia é verdadeira e sujeita a algumas leis maiores temerárias sempre.  A vida como ela é , diria Nelson Rodrigues !
 A noite, nos submetemos a escolha existente do menu peregrino, entre galinha e lentilha, regada a uma gelada e cara ($) coca cola, fazendo com que nosso sono chegasse mais rápido e que o novo dia , pudesse nos levar para um universo diferente daquele que estávamos presenciando.   Tomara !!!
Uma nota triste, para nós ( eu e a Simone) que dentro das limitações do idioma, estávamos conseguindo colecionar alguns parceiros e fazendo alguns vínculos com amigos da caminhada. Pois foi com tristeza que vimos algumas pessoas queridas do dia a dia das relações chegando extenuadas no albergue e este já lotado, tendo que obrigatoriamente negar auxílio e guarida a estas pessoas, como foi o caso do nosso amigo francês, (Messie Cristian), que cheio de bolhas, cheio de assaduras nos pés, do calor , da poeira e do cansaço, não teve alternativa de poder continuar, sendo carregado de ambulância, para a próxima parada, onde foi acomodado e teve um tratamento médico adequado as suas necessidades.   Mas, era sim muito ruim ver as pessoas desoladas e sem alternativa.    Trecho triste, trecho difícil, trecho para esquecer, e etapa complicada.  Assim também é o caminho, e isso a gente teve de  conhecer de forma chata e de forma quase impossível de poder ajudar e tentar  contribuir.  Mas nada que não pudéssemos aguentar.   A próxima etapa já nos esperava e esta é uma das certezas do caminho. Vencer a cada dia e seguir sempre em frente!   Quase nada diferente de nossas vidas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ETAPA 17 : FROMISTA A CARRION DE LOS CONDES.

 Ao final da etapa de hoje, teremos atingido a metade do caminho.  É um alento, é o primeiro referencial de valor e de distancias relativas que nos dá um pouco de ânimo, ou nos impulsiona com um resultado favorável.  Ter já percorrido a metade do caminho é sim uma marca de respeito e que nos impulsiona.  Mas nada de muita empolgação, porque o dia dia é sempre cruel e a frente sempre é o que se impõe.
 A etapa a ser vencida , é de FROMISTA, até Carrion de los Condes, uma cidade pequena , mas aconchegante e que foi bem significativa em nossas lembrançaas.  Cada cidade ou povoado marca de uma forma, sendo que FROMISTA  nos marcou pela hospitaleira negativa, e aqui como veremos a frente, a idéia foi totalmente ao contrário.  A etapa tinha previsto 20.5 quilometros de percurso, todo ele quase em linha reta e que nos fez caminhar ao lado da estrada ( carretera), tendo somente neste percurso, dois pequenos povoados para serem vencidos, e tambem por conseguinte, nos privado de locais agradáveis para as paradas.  O negócio seria caminhar no plano, mas caminhar.  Dia das Mães.....e no caminho é como se não fosse, pois nada de muito romantismo, e a saudade dos filhos, desde a manha já provocou na Simone uma sensação de saudade, de falta e fez a caminhada ser silenciosa, pensativa e  talvez um pouco nostálgica, para quem já estava  a dezessete dais longe das raízes e da rotina.     Caminhar, caminhar, nada de alegre, estrada mais estrada, e lá pelas 11 horas da manhã, a primeira parada para um café.  Que maravilha!  um, simples café, mas como tem gosto, como é bom poder parar e tomar e como estas pequenas coisas se avolumam no nosso imaginário nestes momentos.  Foi um café muito esperado, muito gostoso e alentadora a parada.
 Já passando do meio dia avistamos Carrion e a alegria de saber da missão diária cumprida, nos alegrou e fez esquecer a rotina da estrada e quando vimos estávamos adentrando a pequena cidade de Carrion de Los Condes, um lugar organizado, bem aconchegante, organizado, muito limpo, bem arejado, com um dia de sol agradável e com a possibilidade de escolhermos o albergue onde ficar.  Nós seguimos as recomendações dos manuais e ficamos no Albergue das monjas, e não nos arrependemos pela escolha. UM local leve, de boas vibrações, atendido por hospitaleiros realmente solidários, na presença das freiras, e que se apresentou com uma perspectiva bem adequada, até pela constatação que tinha tudo o que precisavamos, tinha uma ampla cozinha e depois de três dias iríamos novamente fazer uma comida e matar a vontade de comer algo próximo aos nossos gostos e usos.  Dito e feito.
A rotina indispensável de todas as etapas ( banho, lavar roupas, arrumar a mochila, secar as roupas), e depois então buscar comida, arrumar lanche para outro dia, sentar no sol ( quando tem) e aproveitar o calor gostoso que nos dá um alento depois de dias de muito frio e desconforto.  Fomos até um mercado, compramos massa Barilla, linguiça, cebola, ingredientes para  um molho, baguette fininho, um pacote de Inhoque gelado para comer junto e a coca-cola    abençoada que nunca pode faltar e efetivamente nunca faltou na nossa caminhada.  Azar aqueles que entendem a coca-cola uma coisa prejudicial a saúde, mas ela foi reconfortante  em muitos momentos de verdade.
Lá pelas 17:30 tivemos o convite das freiras para um momento de música de flauta, bem suave e de acalmar o coração.  Bem descontraído, mas algo  espontâneo e que nos acalmou de verdade por bons momentos. Saindo deste momento musical, fomos jantar , porque após tínhamos na catedral de pedra ( fria, e escura), a missa, que depois se configurou  como um dos momentos também emocionantes de nossa caminhada.  Gente de quase 25 países diferentes reunidos na missa, o padre falando e traduzindo para 4 idiomas( ate cansativo e repetitivo), mas muito contextualizado e reconfortante, e com a presença das freiras  , que estiveram conosco participando e contextualizando a missa para todas as línguas e entendimentos.  Uma sensação de acolhimento muito boa e que para quem está no caminho soa como um bálsamo de felicidade e de  sensação de bondade.  Fomos abençoados de verdade e ficamos muito felizes.  A lembrança positiva de Carrion foi junto conosco até o último momento, pois em poucos locais a frente , tivemos um tratamento tão próximo, caloroso e aconchegante como lá.   Após, sempre descansar é o que se impõe, pois no outro dia sempre temos muita estrada e isso age no nosso cerébro como um estímulo sempre de que quanto mais dormir, deitar, relaxar melhor, para estarmos preparados para o dia seguinte.  Assim foi e assim fizemos. E trouxemos conosco em nossos corações o bom acolhimento do albergue das freiras em CARRION DE LOS CONDES, um local de boa lembrança em nossa memória na aventura do CAMINHO DE SANTIAGO EM 2013.

domingo, 15 de setembro de 2013

CASTROJERIZ ATÉ FROMISTA: 26.5KM

COMO INICIAR A ETAPA QUE SE APRESENTAVA SÓ PELO VISUAL A FRENTE COMO TERRÍVEL ?  Pois vamos ver então : O dia era um Domingo, 12 de maio de 2013 se ainda não me atrapalhei com as datas, e a etapa só de olhar do segundo andar do Albergue do Paco, nós dois olhávamos , aquele morro a frente e era uma visão terrivel.  Intimidadora poderia ser a palavra ideal e bem colocada.  Quanto chegamos lá em cima, podemos saber o nome :  ALTO DE MOSTELARES, o nome de um morro, que possuia e ainda possue uma inclinação de subida de 12 graus, muito , mas muito forte para quem quer que seja, independente de ter ou não bom preparo.       
Para não ser diferente das outras etapas, e estar  dentro da média que as etapas estavam nos proporcionando, a saída foi muito cedo mesmo. Seis horas já tínhamos passados os limites da cidade e ido em direção a montanha majestosa e imponente que nos esperava la, com muito frio, um vento terrível, chato, frio, e que não ajudava em nada, muito pelo contrario. A decisão de enfrentar cedo, era mais para tirar a agonia do desafio, do que efetivamente correr por causa das quilometragens, e até porque com o passar dos dias , a tendência é a gente ir perdendo o medo, ficando mais livre, mais confiante, aumentado o preparo e enfrentando as dificuldades de maneira mais tranquila.
A subida foi aquilo que já estávamos esperando : TERRÍVEL. Muitas paradas, muito respirar, molhados com todo aquele frio ao extremo, encharcados nas camisetas, suando para fazer molhar a jaqueta impermeável , até chegar lá em cima onde a vista por si só tirava um pouco da sensação de sofrimento e nos dava a dimensão de quanto era lindo, e o quanto  , a gente passa de uma sensação para outra em função de minutos e de circunstâncias.  Lá em cima uma beleza imensa, e também uma situação controversa de imediato, ou seja : a descida no outro lado, após a subida de uma altitude  de 1050 metros, previa na descida, para os joelhos, uma coisa ainda mais impactante,ou seja , uma inclinação de 18 graus, 50 por cento a mais que na subida, em uma pequena pista concretada, tendo em vista  a impossibilidade de de ser diferente, pois de outra forma ninguém conseguiria descer devido ao grau de inclinação sem cair rolando morro abaixo.
Todo este percurso de subida , descida do morro, levou a marca de quase 20 km, restando para nós, até chegar a Fromista, 6.5 km a serem percorridos em uma paisagem beira do canal de irrigação que tinha toda esta  distancia e desembocava num complexo sistema de  eclusas de registros de contenção de cheias , com limitadores e filtros de soltura de água, que fazia a nivelação do volume, em função de cheias, chuvas ou necessidade de água para fazer a irrigação dos campos ao longo dos quilômetros todos.    Este percurso, foi feito com muita dificuldade e tive a impressão de que iria ter a minha primeira tendinite, pois tive que fazer um acordo com a Simone e ela foi a frente, tendo em vista que , meu joelho estava literalmente me abandonando.  A Simone chegou, se instalou no albergue, e eu somente quase uma hora depois é que fui chegar, quase que me arrastando, tendo em vista a dificuldade de caminhar e já quase não articular o joelho.  Muito ruim, a sensação, muita dificuldade, em um dia de muito esforço, e onde  a caminhada durante a manha de um dia de sol somente no fim da manha, judiou bastante  a nosso já quase combalido preparo.  Para chegar, tive que percorrer os últimos quilômetros mancando de verdade, pensando que seria impossível no outro dia a continuidade de nossa caminhada.   Chegando, encontrar a Simone já instalada, poder tirar a mochila, tomar um banho quente, tomar um comprimido de antiinflamatório e comer, para poder me recuperar e descansar até a manha seguinte. 
Algumas novidades em nossa caminhada:  chegar no albergue e a hospitaleira não deixar usar a cozinha, foi uma experiencia diferenciada, ainda mais quando se tem a nítida impressão que ela estava impossibilitando o uso, para direcionar os peregrinos para serem atendidos e fazerem uso do restaurante estabelecido ao lado do Albergue.   Uma sensação chata, de que ficamos pensando que muitas vezes são práticas atribuídas ao procedimento compatível com um brasileiro, pelo preconceito e a forma muitas vezes de agir retirando vantagens das oportunidades.   Pois, isso aconteceu em pleno CAMINHO DE SANTIAGO, nesta localidade espanhola, com a desfaçatez descarada da hospitaleira, que agiu de forma a nos cercear o uso da cozinha e fazendo sim este pequeno trafico de interesses comerciais , um tanto quanto escuso e inaceitável para os padrões europeus vigentes.   Sendo assim,  nos restou um aproveitar para descansar o resto do dia, e curtir o sol e a temperatura que melhorou sensivelmente, ficar ao sol, comprar nossa alimentação em uma tenda, que para nossa satisfação, ao conversar com a atendente que falava um espanhol com sotaque, e que ao nos ver falando português,revelou ser brasileira de goiânia, ter um filho quase adulto, já estando casada com um espanhol e ter aquele comércio ali, com características de atender principalmente os peregrinos, sendo que depois de alguns detalhes, admitir publicamente que a interação entre hospitaleira e o dono do restaurante vão com certeza mais longe do que simplesmente a negativa de uso da cozinha.  O procedimento é deliberado,e a alternativa restante aos peregrinos é uma medida usual e acertada.  Triste mas verdadeira. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

HORNILLOS DEL CAMINO ATÉ CASTROJERIZ : 15 ETAPA DE CAMINHADA.

 Uma etapa de 21 km, um pouco diferente, alternando caminhos, paisagens, saindo das messetas nos platôs de morros, mas com o frio que nos atucana e nos dá uma  parcela complicada de  cuidados e de desconforto.  Nosso erro com relação as roupas foi muito  escancarado, e fez ( mais a frente eu conto) com que tivéssemos que providenciar alguma coisa mais forte e mais agasalhada, porque não estava fácil , mesmo com gorro, luvas, jaqueta de material impermeável, mas é muito, mas muito frio, e até que as 10 horas da manha chegue, para quem caminha desde as seis horas da manhã, é muito frio para ser colhido.  Eu sempre conto e não canso de repetir, pois a falta de roupas térmicas de verdade, nos leva a tomar vários  banhos de suor literais, e isso causa um desconforto, pois o primeiro vento e na primeira parada, mesmo que seja por 3 ou 4 minutos, a gente literalmente congela, causando um desconforto indescritível.  Muito ruim de verdade.    Uma paisagem belíssima, uma visão do morro, da cidade encrustrada no morro , como se fosse um castelo fortificado , a olhar e apreciar lá de cima tudo o que chega, se aproxima etc....!   E era para isso mesmo que as cidades eram incrustradas nos morros, para que a visão e a defesa fosse previlegiada.
 Saindo de Hornillos, uns 5 km caminhados e as messestas acabaram, ficando  uns 10 km para ser margeado o morro e ir circundando, sendo a subida lenta e feita num terreno acidentado e que nos levaria depois que chegamos a conclusão que subimos e não sentimos quase, apesar do nosso problema individual com o frio congelante.   Chegamos a aproximar da cidade, e ver as ruínas de um castelo medieval, usado como se fosse um Monsatério, e hoje mesmo preservado, sendo transformado em ruínas bem preservadas, fazendo a imagem de chegada da cidade, onde  a partir destas ruínas, a gente caminha uns tres kilometros em uma alameda asfaltada que nos leva ate a cidade que fica literalmente no pé do morro presa na pedra.  Uma coisa muito linda de ver na chegada, lá de cima e depois também emocionante quando a gente deixa aquilo tudo para trás e sobe novamente um morro com a inclinação de 18 graus, que é um processo todo diferenciado e que contarei na próxima etapa.
 Chegamos na cidade, depois de subir e achar o albergue na parte alta da mesma.  Albergue St.Stebam, em que encontramos uma figura totalmente diferente, diferenciada e marcante.  Eu falo do hospitaleiro " PACO", UMA FIGURA!  \Um albergue de dois andares, em que na parte de baixo funciona a casa de cultura municipal, e na parte de cima o albergue propriamente dito, onde encontramos uma grande sala aberta e demarcada com colchoes no chão e apenas 4 beliches.  Tudo extremamente limpo, e pelas 11 e meia, nos foi possibilitada a entrada e começamos a nos instalar.   Aquela rotina igual de sempre, arrumar as coisas, lavar secar, colocar os pés de fora, secar os pés ao vento, desapertar das duas meias e das botas apertadas, tomar um solzinho apesar do frio e buscar urgentemente na calçada da parte alta da cidade uma tenda( bar) que nos remeteu para os anos antigos e da forma dos antigos armazéns aqueles de armarinhos, atendidos por uma senhora de idade, espanhola de feições fortes, senhora de si e falante , quando começamos a escolher nossas compras.  O trivial de sempre , mas que nos dava o prazer de comer o que queríamos e da forma que escolhíamos também..
 De posse de nossas compras, nada melhor que sentar num banco no sol, a frente do albergue e abrir a lata de atum com o canivete, cortar um baguette fininho e bem novo, com um queijo de cabra fresco que nos foi oferecido pela dona da venda e acertamos em cheio de comprar.    Comprar duas vezes, porque antes de subirmos para o albergue para dormir um pouco, fomos buscar mais, pois era realmente uma maravilha.   E, rssss, aquela coca-cola do vício que nunca faltou em todas as nossas andanças.
 LÁ pelas 17 horas saímos novamente para comprar  chocolate, e dar uma caminhada pelas principais ruas da cidade , na parte alta é claro, sem descer ladeiras, porque esforço somente no dia seguinte , com a visão que já estávamos tendo do tamanho e altura do morro que nos esperaria na primeira hora da caminhada da manha seguinte.    Porém, isso era na manhã seguinte, e não valia a pena a gente sofrer por antecipação, mesmo com a ciência intima de que seria sim uma missão extremamente complicada , vencer aquele morro para dar sequencia em nossa caminhada.
 Antes de dormir com as galinhas mesmo, pois isso era uma prática quase diária, em deitar e descansar independente se era cedo ou tarde, rolou um canecão de café preto com umas torradas e geléia que o grande parceiro e hospitaleiro Paco ( o de barba abaixo), franqueava a todos os peregrinos que estavam ali albergados.   Acredito que ali pelas 6 e meia da tarde já estávamos adornados com um sono muito bom, e reparador, afim de fazer frente ao desafio do dia seguinte.
 Perdão:  eu ia esquecendo, mas ao ver a foto da escadaria, me lembrei de algo bem peculiar para quem caminha e faz esforço.  cada vez que tínhamos que descer as escadarias, nós pensávamos muito bem, pois, eram alguns degraus de pedra ferro e subir e descer , no estágio de fadiga que a gente normalmente fica, era sempre um motivo de pensar e ver como.
A partida na manha seguinte estava planejada para s 5 e 30, e isso era uma estratégia para o dia seguinte, que contarei na próxima etapa.

domingo, 8 de setembro de 2013

BURGOS ATE HORNILLOS DEL CAMINO !!!!! UMA NOVA REALIDADE.



Na postagem anterior quase não falamos de Burgos , como cidade em si, com suas belezas, com a maior catedral gótica da Europa, e todas as suas belezas.  Muito também não pudemos ver, pois no dia da chegada foi muito pressão para chegar e ter um local garantido, sendo que após, a organização para o dia seguinte, consumiu o resto do tempo. Queríamos ter podido ir na missa, e isso também não foi possível.  Pela manha, a chuva ainda persistia, e colocar tudo em ordem para botar o pé na rua era rotina que nunca poderia ser suprimida.  
A etapa do dia era de 20 km, e isso nos dizia que antes do meio dia deveríamos estar já no local da etapa, com a missão diária cumprida.  Mas, e sempre tem um mas........a corrida literal de burgos ate hornillos, tinha uma particularidade, ou seja, decorrente de todo o público que aglomerava em burgos, a etapa seguinte, tinha como característica, um Albergue de apenas 30 lugares, e assim não sendo, a próxima parada era 10 km a frente, fato este que vai nos mostrar a frente um leque de problemas ........ms isso é mais a frente ainda.
Deixamos para trás o Excelente Albergue de Burgos, que com suas condições, nos permitiram tem um nível diferenciado de conforto, fazendo quase que um reciclar em nosso " padrão" de caminhada, ou de locais para ficarmos hospedados.   Foi uma parada diferenciada.
Como os locais que nos esperavam eram um tanto inóspitos, tivemos que reforçar as compras no mercado, sendo que isso, correspondia a peso na mochila e levar lanche, almoço e janta, independente do que iríamos encontrar. E assim foi.
Pois, saímos com chuva, bastante frio, e quando chegamos em frente ao centro esportivo de Burgos, um complexo moderno de ginásios, e todos os equipamentos necessários, tivemos a oportunidade de ver as 6 e 15 da manha a marca de 5 graus positivos no placar digital, sensação esta que nunca é muito agradável. Uma correria normal de todos, porque a dimensão da etapa e as dificuldades de encontrar local, fazia com que todos andassem sem muito detalhe e ficava estabelecido uma literal correria.  Eu cometi um erro chatinho,pois ao sair esqueci de colocar micropore nos dedos como vinha fazendo todos os dias, e isso representou na primeira parada possível para o lanche, a obrigatoriedade de perder tempo, retirando botas, as duas meias, secar os pés e  colocar dedo por dedo a bandagem.   Depois deste dia , isso nunca mais foi esquecido. Isso foi no povoado de Tardajos, local bem pequeno, que nos possibilitou apenas a parada e um local para sentar e tomar um café com o lanche que trazíamos na mochila.
Chegamos as 11 e 30 em Hornillos, e fomos quase os últimos a conseguir uma vaga, no albergue que tinha ao lado da igreja, bem pequeno, e que depois de fazer a rotina de instalação, nos possibilitou a sentar na escadaria da igreja, com os primeiros raios de sol que apareceram, e esquentar como lagartos, comendo alguma coisa e apreciando as pessoas chegarem e não ter mais vagas.   Ficamos por horas sentados ali, e vimos a hospitaleira da cidade,Marisol que de forma diferenciada ,interessada, extremamente receptiva se sensibilzou com a quantidade de gente que chegava e providenciou com o padre  a ocupação do salão paroquial para mais 18 peregrinos, fato que desafogou muita gente, e que depois, sem mais esta alternativa, o encaminhamento para povoados distantes foi a unica alternativa( mas com acesso de táxi somente), pois mais 10 km era muito complicado para as pessoas que chegavam já fragilizadas da caminhada e do tipo de caminho que tínhamos percorrido.  Nós todos, tínhamos acabado de conhecer as Messetas, grandes áreas em cima de platôs de morro, com plantações imensas e que se estendiam por quase 8 km de distancia somente no meio da plantação de trigo, com muito vento, umidade, e nada para poder apreciar.
Um dos fatos diferenciados desta etapa, foi a repentina vista , decorrente de muitos kilometros de caminhada em cima do platô, e quando aproximamos do povoado, tivemos que fazer um mergulho literal na baixada do morro, para chegar ao albergue, nos fazendo alegrar ao ver a chegada  e saber que mais uma etapa tínhamos cumprido.    Quando da nossa permanência sentado em frente a igreja, pudemos falar com outros peregrinos brasileiros que estavam por perto e vivenciar a troca de informações com alguns que acusavam tendinites, dificuldades com bolhas, dificuldade de achar local para ficar e isso pelo menos não nos atingiu, pois ficamos apreensivos por eles, muito embora nossa situação estivesse controlada e já estabelecida.  Cada período de vivência, cada etapa nos mostra e nos faz ver e aprender sobre nossas fraquezas, nossas resistências, nossas possibilidades de  acomodação, e também a nossa capacidade de aclimatação.  Lição do dia : você acaba se surpreendendo, pois cada um faz o seu caminho.   Acabamos de ver um táxi chegar, e descer uma peregrina que tinha reserva numa casa rural próximo onde estávamos e prontamente desceu e se alojou.   Que tipo de caminho ela estava fazendo, não interessa a nossa apreciação, mas registramos apenas, para dividir com todos vocês, que o caminho quem faz é a gente mesmo.   Quem vai dizer ao contrário ?    Verdade, eu e a Simone fizemos o nosso também, obedecendo todas as coisas que tínhamos lido sobre.

sábado, 7 de setembro de 2013

De ORTEGA até BURGOS.

 Pois, para um dia terrível, com certeza, o outro teria que ser melhor, e pelo menos mais iluminado e não tão sombrio, escuro de poucas possibilidades e de tamanhas dificuldades.  O dia que amanheceu, foi muito esperado, e nada como a vontade de ir em busca de um  trecho diferenciado.  O que teríamos pela frente ?  como saber sem trilhar, sem buscar, sem passar por todas as situações.  O caminho nos chama, e  o desprendimento é nosso.  libertar o coração e seguir em frente.   Nossa missão a frente envolvia uma etapa de 25 km, com uma subida forte e um declive leve mas existente.  Era tudo o que nós sabíamos.    E, apenas um telefonema que nosso amigo Arnaldo nos deu dizendo que , dentro do perímetro urbano de BURGOS, teríamos que caminhar na área urbana 10 km.  Deveríamos ter cuidado, pois poderíamos perder a vaga no albergue , como ele igualmente tinha perdido.  Nos avisou !!! e como nós agradecemos este aviso.
Colocamos o pé na estrada, com muito frio, pois a noite tinha acontecido bastante chuva , e nossa largada, foi já com uma temperatura chata, com tempo  chamando chuva, e a paisagem até um pouco desoladora ainda.  Andamos no impulso, por três quilometros, e chegamos a um lugar MÁGICO !.

Queríamos comer, queríamos tomar um café, e o primeiro lugar que encontramos , entramos de ímpeto, sem olhar, sem escolher, se até cuidar onde era.  Foi a primeira porta.  Pois, sem ter como traduzir, só sentir, entramos em um lugar mágico e diferente.  O casebre por fora, era por dentro um ambiente diferenciado. Pequeno, compartimentado em dois níveis, onde sentamos na parte mais alta e procuramos esperar o atendimento.  O hospitaleiro era alguém de feições simples, que atendia algumas peregrinas americanas que tomavam café, e esperamos a nossa vez.   No entrar  escutamos a musica, de fundo  de LOUIS   ARMSTRONG , aquela da voz rouca, que nos emocionou já de saída. Sentei, e a televisão de fundo, passava um documentário sem som sobre  a subida do salmão na época da desova e a luta dos ursos, para se alimentarem , cortando a subida dos peixes, ou pelo menos ficando ali nas pedras a espreita. TV sem som e só com aquelas imagens, a música...e logo logo a percepção de que aquele hospitaleiro do bar, era alguém diferenciado.  Ele atendia as pessoas que chegavam ao bar com uma atenção, com uma simplicidade e fazia aquele café e aquele bocadilho, como se preparasse a obra de arte mais importante deste mundo. A atmosfera daquele lugar era uma coisa nunca vista e sentida. Eu não sabia o que dizer, pois até então eu só olhava, pressentia, apreciava o acontecimento ao redor sem esboçar palavra nenhuma. Foi o café mais gostoso, o pão mais saboroso, momentos de desligar, passar o molhado da camiseta que era ensopada de suor da primeira hora da caminhada, que me fez ficar por momentos , absorto da minha sempre pressa, da minha ansiedade normal em querer caminhar e cumprir as etapas.  não sei quanto tempo fiquei ali perdido nos meus pensamentos, até me dar conta que a simone tinha ficado na parte de baixo do bar , tomando o seu café, e também do seu jeito, ao seu modo estava embargada com a atmosfera do lugar.   Incrivel, lá sei eu, derivado do que, de que percepção mútua, nos olhamos e as lagrimas escorreram na hora, pois a interação era total e saído não se sabe de onde.  Fomos pagar, e dissemos ao hospitaleiro da nossa grande satisfação de ter estado aqueles momentos ali, e ele se emocionou também, fazendo com que nós tres, por breves momentos, estivéssemos em uma espiral de emoção , que mexeu de verdade conosco.  Porque ?  não sei, mas que aquele lugar era diferente, era melhor, era aconchegante, tinha uma aura boa com certeza tinha.

Colocamos a perna para fora do predio simples do café, e a Simone me aponta para a placa da frente que na entrada não tínhamos visto :  o nome do bar........ " O ALQUIMISTA"  !   NOSSA, caimos no choro novamente, fazendo com quem estivesse chegando, sentado na frente, não entendesse nada, mas sem fazer qualquer manifestação.  Tínhamos sido agraciados com momentos mágicos de nossa caminhada, após um dia terrível anteriormente, e que por breves momentos , tínhamos sido brindados com muita energia, com muita força interior e com uma aura extremamente positiva e  restauradora.

O frio já era secundário, as luvas foram colocadas, a mochila afivelada, nossos cajados empunhados, e o olhar para que lado a seta indicava, para voltarmos novamente ao mundo real dos peregrinos, dos trechos, das distancias, e das botas, pedras e dos albergues.  E assim foi.... !







 Saímos anestesiados daquele café, e caimos na estrada  calados e sem maiores comentários.  Nosso trecho a frente, nos mostrava uma subida até um cruzeiro em cima do morro, na altura de 1080 metros do nível do mar, e trecho este todo feito em solo pedregoso, com pedras brancas, e margeando um campo de treinamento do exército espanhol, e suas placas proibitivas de passagem , além de suas marcas e fios de arame. Foi uma subida dura, uma subida chata pelo solo ruim, que terminou lá em cima num platô , com este cruzeiro, e de onde  podíamos divisar lá no horizonte a cidade de Burgos, com sua área industrial que rodeava a cidade.
 Agora lomba abaixo, sem forçar muito os joelhos, a alegria era dobrada, pois se a chuva estava de volta, a certeza de já divisar nosso objetivo ao longe, nos dava a certeza que mais uma etapa estava prestes a ser completada.    Doce ilusão !!!!!!!
Aquilo que divisamos lá de cima não chegava nunca, e contornar a cidade pela sua área industrial, pelos fundos do aeroporto de Burgos, e se aproximar da área urbana, foi bem penoso e difícil.  Caminhar na estada, na beira do asfalto, com chuva, com frio, descampado, com vento apertando, com bota ficando molhada e aumentado a fricção dos pés, com o pavor sempre presente do aparecimento das bolhas.
Esperei por momentos a Simone, que tinha ficado para trás, e combinamos andar mais lento,  mais lado a lado, pelo menos nos consolando intimamente, pela companhia e pela presença próxima, se é que isso pudesse acrescentar algum alento.   Podia sim e saibam todos, sempre pode.    Nada como alguém junto, alguém para dividir o olhar, alguém para trocar impressões, nem que seja para dividir a cara ensopada e a roupa já também encharcada.
Quando contornamos o fundo do aeroporto e atravessamos a auto estrada, vimos alguns prédios residenciais, e com eles a dúvida se ali começava ou não a área urbana da cidade.  Nossa dúvida não se prolongou, pois ao divisarmos o primeiro núcleo residencial, divisamos um aglomerado de peregrinos em baixo de uma parada de ônibus, e por curiosidade tentamos ver se eles tinham alguma informação.
Claro que tínham, e que informação valiosa......!  ali era o terminal do ônibus( estilo minhocão), que ligava a área residencial de Burgos, com a área central.  E, para risos de todos e para ser cometido o primeiro " pecado" da caminhada, existe o consenso já na pratica de todos os caminhantes, que não fazem o período da caminhada por área urbana dentro da cidade de burgos, mas sim tomam este ônibus e descem na frente da catedral no centro, para poder acessar mais rápido o albergue central.  Adivinha o que fizemos ??????   rssssssssssss, que festa dos peregrinos nestes 10 km no minhocão. Descer na frente do albergue de Burgos, esperar uma hora na fila, para entrar, na chuva, mas , mas, mas, quando entramos ficamos maravilhados.  O melhor  albergue em questão de logística.  Um predio de 5 andares, 5 estrelas, mantido pelo governo de Burgos, e com todos os confortos do mundo.    Uma excelente cama, maquina de lavar secar, cozinham ampla, banheiros para cada grupos de 10 peregrinos, camas unificadas a cada ambiente com quatro camas, enfim estávamos  no paraiso.     Que sorte, pois lavar todas as roupas, secar tudo o que estava encharcado, comparar comida no supermercado da cidade, a simone comprar uma Papete para aliviar um pouco os pés, foi o nosso programa até a noite.

O dia ainda iria render:  Encontramos um brasileiro, baiano que junto conosco e mais um outro brasileiro, nos fez o convite para comer antes da janta uma salada verde, com maça e mais algumas amendoas e passas.   Valeu a parceria, a divisão do alimento, o carinho dele para conosco, e o compartilhar.   COMPARTILHAR......uma palavra do caminho, não esqueçam.
Nunca esquecer......como lembrei de meus  filhos, de minha mãe, dos amigos aqui da cidade, da minha filha pequena a cada vez que a correntinha dela que me deu para levar junto, se enrolava no meu pescoço.   SIGNIFICADOS.....tudo sempre tem um significado, e no caminho isso toma proporções gigantes em nossos pensamentos.
Burgos com seu tamanho, com sua imponência, com sua acolhida, me fez pensar muito na minha mãe, no meu pai, na falta que eles me faziam pela distancia e pelo seu não existir mais como meu pai......e por ai vai.  A certeza de que meu pai esteve muito comigo naqueles momentos terríveis de ST Jean, lá no primeiro dia e toa a sorte de lembranças, que nos assolam quando estamos fragilizados.
MAIS........isso foi tudo!  de resto dormir, levantar e seguir em frente, mas desta etapa a frente, falamos em seguida.